Carta de Fátima da ERI aos equipistas de todo o mundo

 

Na sequência do Encontro Internacional Fátima 2018, a Equipa Responsável Internacional das ENS expressa, nesta carta aos equipistas de todo o mundo, as principais orientações para o Movimento nos próximos seis anos.

 

 

CARTA DE FÁTIMA DA EQUIPA RESPONSÁVEL INTERNACIONAL AOS EQUIPISTAS DE TODO O MUNDO

 

 

Queridos Casais equipistas e Conselheiros Espirituais das Equipas de Nossa Senhora:

 

Ao concluir este XII Encontro Internacional com o coração transbordando de alegria, sentimos o desejo de perpetuar e multiplicar tudo o que vivemos nestes dias tão intensos e enriquecedores. Estamos todos contagiados pela imensa riqueza do nosso carisma de Espiritualidade Conjugal, pela mística da unidade vivida ao redor de Cristo, que nos convoca no meio da riqueza da nossa diversidade a caminhar juntos na fidelidade ao essencial. Levamos no coração a graça de ter sentido na “Reconciliação, Sinal de Amor” o profundo significado da nossa filiação divina e da sua gratuitidade.

 

O que vivemos nesta semana intensa e ao mesmo tempo curta, pois não gostaríamos que terminasse, não pode ficar como uma recordação, mas deve permanecer uma fonte de luz que com as nossas obras continuaremos a alimentar e a irradiar, multiplicando-a à nossa volta com todos aqueles que não puderam viver diretamente esta graça.

 

É agora o momento oportuno, em que estamos com o coração aberto e disposto a transmitir-lhes o discernimento que nos levou ao fim deste caminho e ao início de mais uma nova etapa. Servirá como inspiração para começarmos a traçar o nosso roteiro de vida em sintonia com o caminhar da Igreja, com fidelidade às nossas fontes e na mística da nossa adesão total a Cristo e à nossa Mãe Maria, que nos conduz e nos encoraja.

 

No mundo de ontem e de hoje, sempre houve luzes e sombras. Em contraste com as sombras que se escondem, hoje há também muitas luzes e sinais de esperança de que somos chamados a erguer-nos porque “ninguém acende uma lâmpada e depois a cobre com uma vasilha ou a esconde debaixo da cama, ao contrário coloca-a num lugar alto a fim de que todos os que entram vejam a sua luz” (Lucas 8, 16-18).

 

O caminho do projeto de vida que as Equipas nos propõem baseia-se nesta enorme graça que nos foi concedida: o carisma da espiritualidade conjugal que passa para nós, homens e mulheres imperfeitos, que, ao aderirmos a este dom, manifestamos os nossos próprios pontos fortes e também as nossas fragilidades, uma vez que somos portadores de luzes e sombras, para nunca perdermos a capacidade de discernimento e autocrítica. Como nos recorda o Papa Francisco, se fizermos uma analogia com a família das ENS “não existe família perfeita, mas há que não ter medo da imperfeição, da fragilidade, e nem sequer dos conflitos” durante os quais não podemos nunca perder a nossa mística, nem o sentido de colegialidade para discernir sobre a vontade de Deus.

 

Se à nossa volta existem sombras, não é por terem sido causadas por outros mas porque nós mesmos não estamos irradiando luz suficiente para iluminá-las. É por isso que hoje, mais do que nunca, as Equipas de Nossa Senhora têm um papel concreto e um dever que devemos assumir. Parafraseando o Papa Francisco no EG nº171: Hoje a Igreja e o mundo precisam de nós, casais das Equipas de Nossa Senhora, para que através da nossa formação e da nossa experiência de acompanhamento, do nosso conhecimento de um modo de proceder onde reina a prudência, a capacidade de compreensão, a arte de esperar, a docilidade ao Espírito, nos ajudemos entre todos a defender as ovelhas a nós confiadas dos lobos que tentam desgarrar o rebanho.

 

Durante os últimos anos no Movimento, temo-nos preparado para “SER”, para compreender a riqueza do nosso sacramento e da nossa conjugalidade, formando-nos, fundamentando a nossa fé e “VENDO”, tomando consciência do papel missionário que a Igreja nos pede. Esta cronologia de caminhada no Movimento é a mesma que ocorre na vida do discípulo, e tem uma ordem lógica que nós não devemos alterar. O “SER” como Cristo – em função da nova natureza que começa com a experiência do encontro, leva-nos a “VER” a vida com os olhos de Cristo e este modo de ver evangélico nos levará, se o permitirmos, a viver, ou, o que é a mesma coisa, a “AGIR” como Cristo.

 

Evitando o risco de cair numa espiral de repetição, se ficarmos parados rodando no nosso próprio eixo, neste novo período da vida do movimento que começa a partir do XII Encontro Internacional e seguindo a mesma dinâmica do crescimento do discípulo, a orientação geral que hoje propomos e que guiará nossa caminhada continuará a serum convite para agir, tornando concreta a nossa Vocação e Missão e fazendo viver em nós o seguinte chamamento:

 

                             “NÃO TENHAM MEDO, VAMOS…”

 

Este chamamento estará iluminado por dois textos bíblicos que nos acompanharão nesta etapa do caminho:

 

1º “Não tenhas medo, porque estou contigo, não te aflijas porque sou o teu Deus. Eu te darei forças e ajudarei…” (Is 41,10). É uma promessa que nos dá coragem de dar o passo que nos afasta das nossas seguranças, mas que, ao mesmo tempo, nos reveste de uma autoridade que não vem de nós mesmos, mas da confiança n’Aquele que nos chama e a quem nós queremos imitar.

 

2º “Tira as sandálias dos pés, porque o lugar onde estás é sagrado” (Ex 3,5), que nos permitirá recordar sempre, que nesta “saída” que empreendemos, não somos superiores a ninguém, mas apenas instrumentos da misericórdia de Deus, de modo que todas as terras em que pisemos, e todas as realidades que enfrentemos, serão abordadas como lugares santos de evangelização onde Deus está presente, embora em circunstâncias difíceis que não consigamos entender.

 

Neste caminhar ao lado da Igreja em “saída” reforçaremos este espírito e esta nova dinâmica missionária a que o Papa Francisco nos convida, sempre com o objetivo de ajudar a descobrir e a viver a verdadeira natureza do amor humano, discernindo, acolhendo e acompanhando através da nossa especificidade e sempre fiéis ao nosso Carisma.

 

Neste discorrer vamos ter como apoio e referência o novo documento “Vocação e Missão” que, no limiar do terceiro milénio, a Equipa Responsável Internacional distribuiu neste Encontro, apresentando uma visão do passado, presente e futuro do nosso Movimento, de forma a podermos:

 

  1. Discernir sobre os desafios à nossa volta a que poderemos dar resposta como Movimento

 

“O que eu peço a Deus é que o vosso amor cresça cada vez mais em conhecimento verdadeiro e em discernimento” (Filipenses 1,9)

 

Ao assumir o movimento com uma clara consciência do sentido real da sua missão na Igreja e no mundo, sentimos que o nosso objetivo, aquele que o nosso carisma nos aponta, é não só a procura da espiritualidade conjugal e do sentido sacramental do matrimónio (onde, obviamente, não devemos deixar de trabalhar, uma vez que faz parte da nossa essência e é um verdadeiro “catalisador” do nosso sentido de missão), como também a promoção de uma consciência e de um espírito missionário em cada membro, em cada equipa.

 

A espiritualidade não é sinónimo de passividade, nem a espiritualidade se constrói afastando-se do mundo. Em sua recente exortação apostólica, “Gaudete et Exsultate“, o Santo Padre Francisco expressa claramente o seguinte (GE 26): “Não é saudável amar o silêncio e evitar o encontro com o outro, desejar o descanso e rejeitar a atividade, procurar a oração e menosprezar o serviço. Tudo deve ser aceite como parte da própria existência no mundo, e integrado no caminho de santificação. Somos chamados a viver a contemplação no meio da ação, e santificamo-nos no exercício responsável e generoso da nossa própria missão”.

 

Para este efeito e sem qualquer prejuízo para a liberdade e iniciativa pessoal dos membros das equipas, as ENS são chamadas a pesquisar, apoiar e encorajar, não através de iniciativas isoladas, mas com a nossa estrutura organizacional e de animação, programas específicos de acompanhamento de casais em situações causadas pelo mundo de hoje. Esta é a nossa fortaleza e a contribuição concreta que podemos oferecer à Igreja e ao mundo de hoje.

 

  1. Dar um novo impulso e um novo espírito na difusão do Movimento em conformidade com a realidade das mudanças que devemos identificar

 

“Simão respondeu-lhe: Mestre, trabalhámos toda a noite e não pescámos nada, mas porque tu pedes lançarei de novo as redes” (Lucas 5,5)

 

No âmbito da Nova Evangelização, é importante dar a conhecer as riquezas do matrimónio cristão no maior número possível de países. Nas ENS sabemos bem como a pedagogia das Equipas de Nossa Senhora e a vivência do nosso projeto de vida faz evoluir de um modo positivo a relação homem-mulher em qualquer contexto geográfico.

 

Neste desejo de expansão, que com o esforço e a perseverança de todos permitiu alcançar maravilhosos frutos, não podemos deixar de pensar e trabalhar sem mencionar duas palavras-chave: interculturalidade e inculturação. A primeira para entender que somos diferentes, pensamos de maneira diferente e vimos de culturas diferentes, que devemos entender e aceitar. A segunda para não esquecer que a nossa formação, a nossa pedagogia e todos os elementos que nos constroem, sem perder a fidelidade à sua origem, devem ser aproveitados e adaptados a cada cultura a partir da compreensão do seu pensamento, das suas expectativas e das suas necessidades. O nosso campo de missão na difusão do Movimento deve também olhar para aquele sul que o anjo do Senhor indicou a Filipe, “levanta-te e dirige-te para sul, pelo caminho de Jerusalém a Gaza, que está deserto” (Atos 8, 26), sem cair na tentação da eficácia dos números, para que todos os casais do mundo seja qual for o seu estatuto, situação ou origem, possam conhecer o dom e a graça que nos foi confiada.

 

  1. E praticar sempre «a arte do acompanhamento»

 

“Finalmente, tenham todos, o mesmo modo de pensar, sejam compassivos, amem-se fraternalmente, sejam misericordiosos e humildes” (1 Pedro 3,8)

 

A palavra acompanhar, como insiste o Papa Francisco, é a chave do nosso olhar para fora. O documento “Vocação e Missão” explica: Nas equipas estamos já iniciados nessa arte que implica acolhimento, escuta, compaixão, encorajamento, paciência, discernimento, reciprocidade… Somos chamados pela Igreja a acompanhar os momentos de maior fragilidade: o caminho para um compromisso sério e duradoiro; os primeiros anos da vida matrimonial; as fases de crises e dificuldades; as situações complexas derivadas de fracassos, abandonos e incompreensões. Necessitamos, cada vez mais, de nos “especializarmos” na arte do acompanhamento de todas as realidades que, dada a especificidade da nossa espiritualidade conjugal, podemos trazer à Igreja, que necessita hoje, mais do que nunca, de discípulos missionários formados, campo em que nas Equipas de Nossa Senhora jamais deixaremos de concentrar os nossos esforços.

 

Como sempre no nosso agir, confiemos na nossa Mãe, Maria, intercessora e guia no caminho, que nos leva a poder ser como Santa Madre Teresa queria, esse lápis nas mãos de Deus, pronto a escrever o que Ele quiser.

 

Que assim seja,

 

Tó e Zé Moura Soares, Responsáveis Internacionais 2012-2018

Clarita e Edgardo Bernal Fandiño, Responsáveis Internacionais 2018-2024

 

Equipas de Nossa Senhora