Os gestos de fraternidade nas ENS *

…quando fui ter convosco, irmãos, não fui com prestígio da eloquência nem da sabedoria anunciar-vos o testemunho de Deus. (1Cor 2,1)

Caros irmãos, amados de Deus

 

Sirvo-me das palavras do Apóstolo Paulo para introduzir este trecho em que vou descrever os passos e momentos marcantes do Encontro Nacional das ENS, realizado em novembro último em Fátima.

 

Como sempre gostei de dizer, “estou em desvantagem”, desta vez não por estar sozinho, mas por ter pouca experiência sacerdotal, de apenas 4 anos, e pouca experiência no acompanhamento às ENS, 3 anos como conselheiro espiritual. Por esta razão não tenho muito a detalhar sobre a vida do Movimento das ENS na região de Moçambique.

 

Nós sabemos e acreditamos que Deus se manifesta na vida das pessoas com pequenos sinais e gestos a que, às vezes, não damos a menor importância. Estar presente na celebração dos 60 anos do movimento das ENS em Portugal, foi um dos sinais da manifestação de Deus na minha vida e na vida daqueles que estiveram presentes.

 

Tudo começou quando em setembro de 2015, recebiserem uma chamada telefónica de Portugal e, logo que atendi, escutei uma voz feminina que me fez a seguinte pergunta: “Padre, você aceita viajar até Portugal?” Num curto espaço de tempo fiquei a saber que se tratava do casal Guida e Luís. Respondi positivamente e, logo a seguir, vieram os detalhes que não importa descrever aqui.

 

Parecia um sonho ir participar no Encontro Nacional das ENS em Portugal. Mas depois entendi que era a realização das palavras do Anjo Gabriel: “a Deus nada é impossível” (Lc 1, 37).

 

Tive fé, confiança e esperança. E no dia 14 de novembro de 2015, pelas 18:50h, hora de Portugal, vi-me a aterrar no aeroporto internacional de Lisboa, recebido pelos casais Guida e Luís e Bita e Manuel. O sonho já estava realizado porque tinha os pés já postos nas terras lusitanas.

 

Aquele encontro amigável, a alegria dos casais equipistas que ia conhecendo, o acolhimento e os testemunhos dados pelos casais eram gestos de construção e fortificação dos laços de irmandade. Por isso, para mim, a eloquência dos discursos durante o encontro em Fátima não foi a base da atenção, mas sim o espírito de compromisso com que os irmãos se apresentavam, a entreajuda dos cônjuges e a amizade entre os equipistas.

 

Tanto que a comunicação que fiz no auditório Paulo VI, não estava em papel, mas senti que, com palavras simples, os ouvintes se alegraram, não tanto pela eloquência, mas sim pelo conteúdo da mensagem que refletia a vida e o crescimento do Movimento das ENS em Quelimane.

 

Na verdade, aqueles três dias foram suficientes para descobrir e acreditar que em Deus todas as diferenças caem por terra e reina o Amor e que este gera a partilha. Isto trouxe à tona o dito de São Paulo, segundo o qual “…Deus não faz aceção de pessoas…” (Rm 2, 11). Momentos marcantes foram os da partilha dos alimentos (comer juntos é sinal de amizade) e a reunião de equipas mistas, que fez transparecer a realidade de cada setor ou região.

 

Foi ali que vi o quanto o Movimento das ENS se torna um instrumento para revitalizar e rejuvenescer o amor conjugal. Descobri que as equipas proporcionam momentos de aceitação das fraquezas entre os cônjuges e o mútuo perdão.

Os conselheiros espirituais exerceram um papel indispensável para a manutenção do espírito religioso do encontro. Assim, eu, como conselheiro espiritual do Setor de Quelimane, ganhei mais experiência de acompanhamento aos casais das ENS, amadurecendo mais a minha espiritualidade sacerdotal.

 

Todos esses passos revelaram o espírito de fraternidade e consideração de uns para com os outros. Por esta razão, partilho com alegria o meu sentimento de gratidão aos que fizeram com que aquele Encontro Nacional fosse uma realidade, gratidão pelo convite que me foi feito para representar a região de Moçambique e partilhar a nossa pobre experiência de equipas.

 

Àqueles que negam entrar nas ENS, alegando ser mais uma seita religiosa, “Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem” (Lc 23, 34), pois no momento certo compreenderão que esta é obra de Deus como o centurião compreendeu e exclamou: “na verdade este homem era filho de Deus” (Lc 23, 47).

 

Aos casais Bita e Manuel e Guida e Luís, não tenho palavras que expressem o sentimento de gratidão que tenho. Ao Pe. João Morais Brás, apenas digo é um anjo entre os humanos, porque a sua simplicidade e bondade fazem dele um homem extraordinário.

 

A todos os equipistas e conselheiros espirituais votos de um bom trabalho em busca da santidade.

 

Pe. Jovêncio Vieira Culibena
Conselheiro Espiritual do Setor de Quelimane – Moçambique

 

* Este artigo foi publicado na Carta das ENS n.º 59, mas numa versão ligeiramente mais curta.

Equipas de Nossa Senhora